Andava mortinha para escrever sobre isto. É um assunto que dá
sempre pano para mangas porque das duas três, ou se percebe do assunto e cada
um tem a sua opinião pessoal ou então não estão nem pouco para aí virados e não
querem nem pretendem saber.
Bom, cada um de nós tem a sua personalidade e carácter. Uns são
mais tímidos, outros mais extrovertidos; uns mais conservadores e outros mais
excêntricos. Respeito muito a individualidade de cada um. Não que às vezes não teça comentários sobre uma particularidade
ou outra, mas sinceramente, se fosse escolher os livros só pela capa então
estaria a colocar os grandes clássicos de lado e isso devia dar direito a
prisão. O conteúdo importa.
Assim como cada um tem a sua identidade, cada um de nós tem os
seus gostos, os seus passatempos e os seus vícios. Hoje venho falar de algo em
particular, a música.
Sou talvez, senão verdadeiramente, a pessoa que conheço com o
gosto musical mais ecléctico de sempre. Não sei porquê, mas eu funciono
consoante o meu estado de espírito. Ontem estava a pensar qual seria a banda
sonora da minha vida e cheguei à conclusão que não tenho porque cada dia tenho
uma "orquestra" diferente. Do rock ao kizomba, passando por um
soul-jazz ou blues, chegando ao fado e ao kuduro. (Estou a sentir
franzires de testa do outro lado e consciências a pensar: “Esta miúda não bate
bem”.) Não vivo sem música mas não sou nenhuma expert. O ritmo e as letras que
me cativam, por cá ficam e vão passando na playlist vezes sem conta, dependendo
da disposição do dia.
Mas, indo directa ao assunto, não vivo sem ritmo e poesia e desde
sempre que ouço rap. O rap faz parte da cultura hiphop e cá em Portugal ele está
vivo e recomenda-se! Apesar de ter estado, na minha opinião, algum tempo
desligado da corrente, desde o último ano que voltou com toda a força. Desde os
senhores que “criaram” o movimento e são referências, até às mais recentes e
boas surpresas temos nomes como Valete, Sam the Kid, Xeg, Regula, NBC, Black
Mastah, Dealema, Scratch, Capicua, Carlao, Mind da Gap, Bob da Rage, Dillaz, Mundo, Tekilla, Pofo...
(não teve ordem de preferência e sei que não está aqui nem metade do que
devia). O que me leva a gostar de rap é a dureza e franqueza das palavras. Não
que isto com outros estilos musicais não aconteça, mas o rap coloca ritmo numa
poesia. É liberdade de expressão, sem pudores e sem medo da repressão. É
escrever como se fala, como se sonha e como se pensa. É ler entre as entrelinhas,
como se de um poema de Fernando Pessoa se tratasse. Tenho acompanhado os
últimos lançamentos e tive uma grande surpresa quando comprei o último álbum do
NBC.
Já o oiço desde que começou nos Filhos D’1 Deus Menor e
apesar de sempre ligado ao rap português, nunca tive nenhuma opinião formada
sobre ele. Curiosa, decidi comprar o novo EP Epidemia, através do iTunes e
assim que ouvi, senti uma lufada de ar fresco nos meus ouvidos.
Numa mistura de vários estilos musicais, o rap está
obviamente presente mas de uma forma completamente diferente daquela que
estamos, ou pelo menos estou, acostumada a ouvir. Talvez o descreva como um rap
adulto e maturo que está longe do “pussy-money-weed” que os miúdos de hoje em
dia adoram. Não digo que um roça-roça do Regula não tenha graça, mas prefiro um
Berço d’Ouro. Para mim há por aí “Pérolas” que “Não percebem o Hip Hop” e não
gosto mesmo nada de Bruxa(s). Mais uma vez, ligo muito ao conteúdo e hoje em dia sinto que o pessoal lança sons porque sim, porque lhes apetece. O que lhes interessa é serem falados, nem que tenham que fazer um featuring com o Snoop Dog, Whiz Khalifa, ou até mesmo.........a Ágata (quem pode, pode).
Adiante, para mim Epidemia é um recital de poesia dentro do rap com ideias e linhas de pensamento que agradavelmente me surpreenderam. Inesperado e disruptivo, é de se tirar o chapéu!
Para ouvir, aqui:
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